REDE DE SAÚDE

Carlos Lula, Secretário de Saúde do Estado

Por Carlos Lula

Havia dois pescadores às margens do rio. Saíam da sua lida diária, já descarregando as pescas, quando avistam uma criança se afogando, sendo levada pela correnteza. Assustados, correm para salvá-la.

Mal acodem a primeira criança, mais uma desce o rio, já desacordada, seguindo o rumo das águas. Ato contínuo, os dois pescadores também a salvam.

Mas com duas crianças em reanimação às margens do rio, surge uma terceira criança se afogando. No lugar de correr para resgatá-la, um dos pescadores corre em direção à nascente, no sentido contrário à criança, para surpresa do seu colega.

“O que fazes correndo rio acima quando uma criança se afoga? Me ajude a não deixar essa criança morrer”, repreende. O companheiro responde “mas é exatamente isso. Eu quero entender porque essas crianças estão se afogando e evitar que aconteça o mesmo com outras”.

Essa pequena fábula, contada por muitos professores da área da saúde, ajuda a explicar o mecanismo da prevenção das estratégias de saúde e explica, de modo bem simples, porque perdemos durante tanto tempo essa batalha.

Por não termos escutado nossos avós, não aprendemos que prevenir é melhor que remediar. O modelo de saúde que cuida apenas do doente, que aqui chamaremos de um modelo fragmentado dos serviços de saúde, infelizmente é um legado do Maranhão que necessita ser combatido.

Um sistema fragmentado não promove saúde, ele apenas busca atender aos doentes, tratando a prevenção de doenças em bases individuais, pouco se importando com a gestão de riscos populacionais. No Maranhão, com mais um elemento: os critérios para alocação de recursos e distribuição dos equipamentos de saúde sempre atendeu antes a intenções eleitoreiras do que uma real preocupação com a saúde da população.

Esse modelo tem como hegemonia a atenção hospitalar e uma total ausência de integração dos pontos de atenção à saúde.

Os resultados da fragmentação para o SUS são desastrosos. Há um conjunto de doenças que, na presença de uma boa atenção primária à saúde, teria menor probabilidade de chegar a um estágio que exija internação, o que implica em maiores custos. Basta pensar no custo de um remédio para hipertensão e no custo de um paciente com quadro de AVC numa UTI.

Um artigo publicado, em 2014, pela Oxford University Press, em parceria com a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, aponta a fragmentação dos serviços de saúde como um dos principais obstáculos para a concretização de resultados eficazes de saúde em muitos sistemas ao redor do mundo. E analisa a política brasileira de regionalização como forma de superar a fragmentação dos serviços de saúde. Isto é exatamente o que estamos a fazer no Maranhão.

Na tentativa de superar a fragmentação do sistema de saúde, além do atendimento especializado nas unidades de saúde regionais, o Governo do Estado tem investido em uma rede integrada de serviços públicos de saúde, com o apoio aos municípios, contribuindo para a abertura de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e para oferta de serviços especializados, como o tratamento oncológico no interior do estado.

Nossa aposta é a implantação de serviços integrados, fortalecendo a rede de atendimento para prevenção, diagnóstico, reabilitação e tratamento. O exemplo mais recente é a primeira Unidade de Especialidades Odontológicas do Maranhão – Sorrir.

O serviço inédito fortalece o trabalho preventivo desenvolvido na atenção primária, através das Equipes de Saúde Bucal das Unidades Básicas de Saúde, vinculadas aos municípios. As equipes serão responsáveis pelo encaminhamento dos casos de média complexidade para tratamento no Sorrir. A unidade municipal deverá encaminhar o seu paciente ao serviço de saúde estadual, quando o atendimento não puder ser efetuado na UBS.

Por sua vez, o Sorrir também está interligado a unidades referenciadas da rede estadual, por meio do encaminhamento dos casos de alta complexidade para tratamento do câncer bucal, por exemplo, no Hospital de Câncer do Maranhão.

A implementação das Redes de Atenção à Saúde, tal como está agora sendo feita em nosso estado, segundo o Ministério da Saúde, aponta para uma maior eficácia na produção de saúde, melhor eficiência da gestão do sistema de saúde no espaço regional, e contribui para o avanço do processo de efetivação do SUS.

Isso tem permitido a inauguração de serviços inéditos, a redução de agravos e doenças e a formulação de uma política de implantação de novos equipamentos baseada no estudo técnico das necessidades de cada localidade. O reduto eleitoral não mais importa para a efetivação da política de saúde.

É esse o caminho que estamos a trilhar: não deixar de salvar nenhum afogado, e, ao mesmo tempo, procurar evitar que novos se afoguem.

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