Por Carlos Lula
O aposentado José Mariano Malhão, de 84 anos, foi diagnosticado com a hanseníase em 2013, passou por tratamento durante dois anos. O diagnóstico tardio deixou sequelas graves como a amputação dos dedos da mão e de parte da perna esquerda. Hoje, ele segue sob os cuidados da equipe do Hospital Aquiles Lisboa. Os familiares, infelizmente, o rejeitaram. A hanseníase tem cura. Tenho sérias dúvidas se a ignorância também tem.
A doença nos acompanha há muito tempo. Existem notícias sobre a doença no século 6 a.C.. Uma das hipóteses é que tenha surgido no Oriente e se espalhado pelo mundo através das tribos nômades ou por navegadores. Na Bíblia, existem muitos relatos – no registro ela parece como lepra ou mal de Lázaro. No Evangelho Segundo Lucas, Jesus curou 10 de uma vez. Naquela época, estava associada ao pecado e à impureza, além disso, sem atos milagrosos, a doença era incurável.
Os tempos são outros. Já existe conhecimento técnico e científico para detectar, tratar e curar a doença. Abolimos a necessidade de excluir os hansenianos do convívio em sociedade – antigamente, eles eram arrancados das famílias e levados para “leprosários”. O tratamento atualmente tem eficácia para barrar o contágio.
Por outro lado, os avanços não conseguiram erradicar a hanseníase. Para chamar atenção para os casos notificados no Brasil, o Ministério da Saúde estabeleceu o Janeiro Roxo, dedicado ao combate da doença. O país concentra, aproximadamente, 80% dos casos no continente Americano.
Historicamente, o Maranhão desponta como um dos estados mais endêmicos do país. Considerando o coeficiente de detecção, em 2016, das 19 Regiões de Saúde, 8 apresentaram parâmetro de hiperendemicidade (quando ocorre a circulação simultânea de todos os tipos de vírus de alta prevalência infectando pessoas em uma área). Neste contexto, constituem-se como um problema de saúde pública todas as regiões de saúde do estado.
A Secretaria de Estado da Saúde tem investido na intensificação das ações de controle como capacitação de equipes da rede básica, em especial as Equipes de Saúde da Família, na organização de serviços com vistas à descentralização do Programa de Controle da Hanseníase, da supervisão técnica e no apoio às campanhas educativas.
Atualmente, o Maranhão conta com 1.181 unidades básicas (aproximadamente 83%) habilitadas nos Serviços de Atenção Integral de Hanseníase. Em 2015 apenas 336 unidades de saúde contavam com a habilitação. Na rede estadual de saúde, o Centro Saúde Genésio Rego (CSGR) e o Hospital Aquiles Lisboa (HAL) são referência no atendimento dos casos de hanseníase – com ambulatório, consulta em clínica médica, terapia ocupacional, psicologia, fisioterapia, tratamento de feridas e oferta de órteses e próteses para pacientes. Já o Hospital Universitário Presidente Dutra é o responsável por cirurgias de reabilitação.
Os investimentos para o controle, combate e erradicação da hanseníase em nosso estado, também, fortalecem o crescimento do exame de contato – importante para o diagnóstico precoce da doença. Em 2014, o exame de contato de doentes mantinha parâmetros precários, inferior a 50%. Ano passado, o índice apresentou aumento de 80%.
Os instrumentos técnicos, a dispensação de medicamentos, a rede de atendimento e a qualificação profissional possibilitam a detecção precoce de novos casos, o tratamento e a cura, mas não erradicam a doença que exige atenção especial das pessoas para seu próprio corpo. Precisamos conhecer as manchas do nosso corpo e procurar o serviço especializado.
Sócrates advertiu “existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.” O combate à hanseníase deve ser tão eficaz quanto educar nossa população acerca da doença. O processo da erradicação é gradual, mas progressivo. Somamos esforços e investimentos para deixar este mal registrado apenas nos livros. Acima disso, lutamos para que histórias de abandono, como a de seu José, não seja o pior dos contágios.