Simplesmente Raimundo

Carlos Lula, Secretário de Saúde do Estado

Por Carlos Lula

“A fome faz o homem procurar caminhos nunca andados. O que importa! Ele vai por aí sem saber para aonde. Sabe de onde veio, mas não sabe para aonde vai. (…) Ser. Ser forte. Ser no agreste os mestres em driblar a fome e enganar a morte”. Em ‘Vidas Secas’, obra publicada em 1938, Graciliano Ramos denuncia a desigualdade social, a miséria, entre outras mazelas sociais. Quem dera o texto não fosse tão contemporâneo ou pudéssemos dizer que a narrativa é apenas um romance fruto do imaginário do autor.

No romance, a pobreza que resulta da seca do nordeste, soma-se à miséria imposta pela influência social, pela desigualdade, representada pela exploração de quem detém o poder na região, os ricos proprietários de terra. Na história, Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia vivem como retirantes em condições desumanas, sobrevivendo dia a dia, sem esperança por dias melhores. O sofrimento da família é inerente a um cenário construído pela prevalência de interesses particulares, pela falta de assistência a quem mais precisa… Por falta de cuidado.

A história poderia ser real, confundida com a de tantas outras famílias que padecem com a desigualdade. Narrativas como a da família de Fabiano existem mais do que gostaríamos de admitir. A fome da qual Graciliano Ramos escreve é consequência de uma série de fatores, o principal deles é a falta de políticas públicas que alcancem indistintamente os cidadãos. A crítica do autor é a uma sociedade organizada de forma desigual e desumana. Um contexto que afeta a existência das pessoas a ponto de tirar-lhes a vida.

Essa triste realidade pode ser observada em todo lugar do Brasil, especialmente em estados como o Maranhão, onde são ainda mais evidentes os resultados de anos de uma política que privilegiava uma pequena e distinta parcela da população. Um Maranhão marcado por essa desigualdade de direitos, que hoje passa por um processo de mudança, onde a nova proposta é ampliar a assistência a quem mais precisa, ao povo que por tanto tempo foi esquecido e marginalizado. O desafio é consolidar essa transformação, levando, de modo concreto, benefícios antes nunca concedidos como a expansão da oferta de serviços de saúde e de qualidade.

Com investimento da gestão estadual em ações, serviços e inauguração de novas unidades de saúde, muitos avanços estão sendo alcançados. A intervenção positiva e decisiva do Estado na vida dos maranhenses, a mudança da lógica política e da forma de olhar o outro gera mudanças em muitas histórias, como a do pequeno Raimundo Nonato da Conceição Neto, de 1 ano e 5 meses. A criança atendida no Hospital Macrorregional Mamede Trovão, em Coroatá, com quadro grave de desnutrição.

Pesando apenas três quilos, semelhante ao de um bebê recém-nascido, a fotografia de Raimundo causava dúvidas se estávamos a olhar uma cena no Maranhão ou mais um registro de uma criança africana no cenário de pobreza. Pele, osso e uns fiapos de cabelo agarrados a um peito que tentava alimentá-lo. A morte parecia já beijar o rosto de Raimundo, já desgostoso e cansado de lutar por sua vida.

O estado da criança comoveu a todos. A sensibilidade dos profissionais e a assistência oferecida no Hospital foram determinantes para reverter uma história que poderia não ter final feliz. Os tratamentos com leite especial, oferecido pelo Governo do Maranhão, o cuidado e a atenção da equipe multiprofissional restauraram a saúde de Raimundo. O resgate dessa vida gera tanta comoção, quanto a atual marca registrada dessa criança – o sorriso.

Fabianos e Raimundos, ficção e vida real que reivindicam a sensibilidade do poder público. Nossa missão é alcançar essas pessoas e tornar cada vez mais acessível os serviços de saúde a todos os cidadãos, de modo a contribuir para a chegada de dias melhores e um futuro menos desigual. Gestos como o sorriso de Raimundo nos motivam a seguir em frente, na certeza de que muito já se faz e muito ainda se fará por nossa gente.

1 comentários em “Simplesmente Raimundo”

  1. Maria de Fátima Silva Soares.

    7 anos atrás  

    Que bom! Seu lado humano, e mostrando aos servidores que a humaninação no atendimento e tudo para um paciente, que chega em uma Unidade hospitalar, rastejando em busca de sair do escuro em busca da luz. Viagem ao desconhecido, não é fácil. Espero que os técnicos que realizaram o atendimento sempre tenham esse comportamento, independente de quem esteja presente. Nós profissionais de SAÚDE podemos até parecer embrutecidos, mas desumanizados NUNCA. PARABÉNS AO GOVERNO DE TODOS NÓS

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