Por Djalma Rodrigues
Poucos profissionais da Comunicação marcaram, de forma tão intensa, sua passagem pelo jornalismo e pela política do Maranhão como Mauro de Araújo Bezerra. Se notabilizou pela competência, serenidade, ousadia e habilidade. Foi um dos meus professores e grande incentivador no início da carreira.
Ele era diretor no Sistema Difusora de Comunicação e, também de O Jornal, quando ingressei no referido matutino, em 1979. No final deste ano, os irmãos Magno, Raimundo e Afonso Bacelar proprietários da Rádio e TV Difusora, adquiriram O Jornal e o Diário do Povo, com apoio do então governador João Castelo. Magno era deputado federal.
As instalações dos dois matutinos foram transferidas para o prédio da Difusora, na Camboa e ambos modificaram suas linhas editoriais. E, observando meu esforço e dedicação, Mauro passou a me chamar para algumas conversas, mais tarde me delegando a editoria de Economia do Diário do Povo, sem que deixasse de escrever para O Jornal. Comecei aí novo rumo na jornada profissional.
No início de 1980, me chamou em sua sala e foi direto ao assunto:
-Djalma, vamos montar um jornal em Imperatriz e tu vais cuidar da redação!
Tremi na base e argumentei que era muito jovem, sem experiência…
-Experiência se ganha é no campo. Já vi que tu és a pessoa adequada para esse projeto. Te pagaremos dois pisos de jornalista, um por aqui e outro por lá-retrucou.
Duas semanas depois estava embarcando para Imperatriz. O ex-deputado federal Hildo Rocha era o administrador e o saudoso Silvan Alves, o fotógrafo, além de uma equipe técnica, composta por Leonardo Lopes de Albuquerque(Amor), responsável pela montagem e manutenção da máquina impressora, uma Solna e o filho deste, Amor de Jesus Lopes de Albuquerque (Amorzinho), fotomecânico. Nos acompanhou também, um cidadão cearense conhecido por Parangaba, diagramador. Era como se estivesse indo como jogador participar de sua primeira Copa do Mundo. Muita expectativa, muita adrenalina.
Na cidade do Frei Epifânio D, Abadia, completamos a equipe, com Nilson Santos na editoria de polícia, Marcelo Rodrigues no esporte e uma jovem conhecida como Teté, na crônica social. Dias depois, por indicação de Mauro Bezerra, juntou-se ao nosso grupo o jovem Iran de Jesus dos Passos Rodrigues, como repórter. Atualmente, ele é professor-doutor da UEMA, titular do curso de Letras.
Em 1980, a inflação no Brasil chegou ao patamar histórico e, até então record, de 100%. A economia viveu períodos de recessão e desaceleração contínuos, o desemprego era alto, os salários se desvalorizavam rapidamente e o aperto monetário interferia em todos os aspectos do cotidiano social brasileiros. Foi quando o Congresso Nacional do Brasil aprovou, por unanimidade a emenda constitucional que restabeleceu as eleições diretas para os governadores dos Estados e do Distrito Federal.
Em São Luís, João Castelo inaugurou a Ponte Bandeira Tribuzzi em referência ao poeta maranhense, autor do hino de São Luís, e que também foi economista, jornalista e precursor do modernismo literário no Maranhão. Logo foi chamada de “Ponte da Discórdia”, em razão do presidente João Figueiredo deixar de participar da inauguração, por não concordar com a homenagem a um comunista.
Dias antes da inauguração do jornal, chegaram em Imperatriz os jornalistas Carlos Alberto Lima Coelho e Edyr Garcia, para a produção de matérias especiais. E, em meados de maio, colocamos o Jornal do Tocantins nas ruas, primeiro jornal diário e em duas cores daquela cidade.
Foram dias de sufoco e, ao mesmo tempo, de satisfação. Chegava na redação por volta das 9h da manhã e saía quase pela madrugada. O jornal agradou e fizemos expansão na distribuição para quase todos os municípios da região. Nossa redação virou ponto de encontro dos políticos aliados da cidade. O saudoso Sálvio Dino, à época deputado estadual, que residia na cidade, ia toda sexta-feira para um bate-papo conosco na redação.
Lembro que Imperatriz virou um frisson quando da despedida do senador Henrique de La Rocque da vida política. Ele representava a região e havia sido indicado para compor o Tribunal de Contas da União (TCU). Esteve em Imperatriz e em João Lisboa, onde, em atos públicos, se despediu do Parlamento. Esteve na redação, onde lhe mostrei as instalações gráficas e conversou com todo mundo. Foi um político muito articulado, gentil e desprovido de vaidades.
O aprendizado foi intenso e serviu de base para que, no futuro, viesse a assumir funções de comando tanto em jornais como em órgãos da administração pública e privada.
Antes do fim do ano, voltei para São Luís. O Jornal foi a minha base, a minha pilastra, minha universidade e, Mauro Bezerra, meu grande professor. Apostou suas fichas na capacidade de um jovem de apenas 22 anos.
Ele é descendente do grande historiador cearense Capistrano de Abreu e do médico e espiritualista Adolfo Bezerra de Menezes. É o primogênito de cinco filhos do casal Ulisses Lopes Bezerra e Rossiclèr de Araújo Bezerra. Nasceu no município de Icó, no Ceará, em 12 de fevereiro de 1940.
Durante a infância, morou em várias cidades do interior cearense e piauiense, já que o pai, funcionário do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), mudava-se sempre que havia a conclusão de uma obra e o início de outra.
Quando, aos 21 anos, trabalhava na Casa Marc Jacob, no Piauí, por insistência do amigo Aderbal de Aquino, foi fazer um teste na recém-inaugurada estação da Rádio Clube, onde encontrou o jornalista cearense Edgar Costa. Disse que não sabia nada de rádio. Foi orientado por Edgard a ir para casa, escutar o noticiário e transformar algumas notícias em texto. Ali nascia o jornalista Mauro Bezerra.
Um ano depois, já estava consolidado no mercado radiofônico piauiense e exercendo na emissora, não só a função de locutor esportivo, mas também de redator de jornalismo, comentarista e, até diretor administrativo da estação, que reunia aproximadamente 70 funcionários. Também já trabalhava no jornalismo impresso, compondo a equipe do jornal “Folha da Manhã”, atualmente, o “O Dia”.
Certo dia, o então diretor da Rádio Difusora, Valber Martins, o “Canarinho”, a quem conheceu em transmissões de jogos dos times maranhenses, o convidou para compor a equipe da emissora em São Luís. Contudo não levou a sério a proposta, pois não acreditava que o seu salário pudesse mantê-lo em São Luís no mesmo padrão que tinha então.
Tempos depois veio outro convite – desta vez, do jornalista Djard Martins, irmão de “Canarinho”, que o chamou para ser redator da Rádio Timbira. Mauro aceitou e transferiu-se para o Maranhão, atuando como locutor esportivo da emissora, tornando-se, posteriormente, diretor, no período de 1963 a 1965, durante a Ditadura Militar. Jamais voltou a Teresina ou sua terra natal.
Mais tarde transferiu-se para a TV Difusora, que foi onde realmente fez história no jornalismo maranhense. Na oportunidade, ainda sem recursos tecnológicos como o videocassete, as atrações da TV eram transmitidas “Ao Vivo”, o que fez com que o jornalista presenciasse e protagonizasse cenas inusitadas.
Assim, seu espírito empreendedor o impulsionou logo a buscar soluções para os problemas causados pelas transmissões ao vivo na TV. Informado de que a TVE de Manaus já possuía um sistema importado dos EUA, para gravar os programas antes de serem levados ao “AR”, foi conhecer a novidade e a trouxe para o Maranhão. Isso, mesmo tendo sido desestimulado por Alice Maria, uma das diretoras da Rede Globo, que acreditava ser o vídeo tape (VT), uma brincadeira de americano.
O sucesso foi tamanho, que o levou a ser convidado a montar o mesmo sistema na TV Clube, de Teresina. Foi ele também o responsável pela implantação da transmissão em cores no Estado, tornando a TV Difusora, na época afiliada da Rede Globo, a segunda emissora do País a ter esse sistema.
Exerceu vário cargos de confiança no serviço público, tanto na esfera estadual como em nível municipal. Foi assessor de Imprensa da Prefeitura na gestão de Epitácio Cafeteira; diretor de Turismo do Município de São Luís, em 1969, membro nato do Conselho Deliberativo do Sampaio Corrêa; e, auditor fiscal do município, cargo no qual se aposentou.
Também exerceu a função de secretário regional do PMDB, em 1980 e presidente regional do mesmo partido. Esteve na presidência do extinto Serviço de Imprensa e Obras Gráfica do Estado (Sioge), de 1986 a 1987.
Atuou como prefeito em exercício do município de São Luís, em abril de 1992. Foi secretário-chefe do Gabinete do prefeito de São Luís na 1ª administração Jackson Lago (1989 a 1992) secretário de Governo, na segunda gestão Jackson Lago (1997-2001).
Seu primeiro mandato como deputado estadual foi entre 01/02/1983 a 31/12/87 pelo PMDB, quando foi líder da bancada do partido na Assembleia Legislativa. Em 2002, conquistou mais uma vez uma vaga no Legislativo estadual com 20.258 votos, pelo PDT, mandato que foi exercido entre 01/02/2003 a 31/01/2007.
Foi secretário estadual de Esportes durante o governo de Jackson Lago, falecendo quando estava no exercício do cargo, aos 67 anos.
Mauro Bezerra foi um profissional que se distinguiu pelo talento e competência. Sua vida foi marcada pela dedicação ao trabalho. Tinha, como uma de suas características, o espírito conciliador e pela preocupação com os problemas enfrentados pelos amigos. Sempre pronto a apoiar quem estivesse em apuros. Deixou um legado muito forte e uma grande lacuna na política e na Comunicação do Maranhão.
*Com colaboração de Mirlene Bezerra e Raphael Garreto