Eufemismo é um mecanismo que tem o objetivo de suavizar uma palavra ou expressão que possa ser rude ou desagradável. Consiste na troca de termos ou expressões que possam ofender alguém por outras mais suaves, menos ofensivas ou grosseiras.
Assim, ao invés de chamar uma pessoa de feia, diga: “Você é desprovido de beleza”. Se pretender dizer que determinada pessoa mentiu, fale com elegância “Você faltou com a verdade”. E para não dizer que fulano morreu, diga apenas: “Virou uma estrelinha”.
O voto dado pelo ministro Raul Araújo no processo que tornará Bolsonaro inelegível foi um voto, digamos, gentil, ou para lá de gentil. As falsas acusações de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro não passaram de “excessos verbais”, segundo Araújo.
Bolsonaro mentiu, mas o ministro preferiu referir-se às mentiras como “afirmações inverídicas”. Araújo fez questão de registrar que “nem todo o discurso” de Bolsonaro diante de embaixadores estrangeiros “veiculou afirmações inverídicas”.
Como apenas parte do discurso em que Bolsonaro tentou desacreditar a segurança das urnas eletrônicas continha mentiras na opinião do ministro, Araújo concluiu que não foi tão grave e o inocentou. Portanto, um presidente pode mentir, mas não muito.
Araújo não estabeleceu a dose certa de mentiras que podem ser ditas por um presidente em discurso transmitido ao vivo pela televisão e dirigido ao país e ao mundo. Se o mundo não fosse seu alvo, por que ele convidaria estrangeiros para ouvi-lo?
Bolsonaro quis alertar o mundo para o que ocorria aqui, e o que era? O Brasil estava às vésperas de uma eleição que seria fraudada para derrotá-lo. Em 2018, mesmo eleito, ele disse que se não tivesse havido fraude teria vencido no primeiro turno, mas houve.
O que sobra de delicadeza em Araújo, falta em Bolsonaro. Os que o cortejam estão com a audição prejudicada tanto são os palavrões ditos por ele quando menciona o nome dos culpados pela sua ruína. O principal culpado: o ministro Alexandre de Moraes.
Se Araújo pensa que Bolsonaro ficou feliz com ele, a resposta é não. Bolsonaro esperava que Araújo pedisse vistas do processo, interrompendo o julgamento por 60 dias. É o que ele espera que o ministro Kassio Nunes Marques faça logo mais à tarde.
Caso não faça, votará para absolvê-lo. O placar final no Tribunal Superior Eleitoral será então de 5 x 2. Há 65 anos, e pela primeira vez, o Brasil foi campeão do mundo. Goleou a França na semifinal por 5 x 2, e a Suécia, na final, por 5 x 2. Isso quer dizer… Nada.
Derrotado por Lula em outubro último, Bolsonaro quase pirou. A erisipela tomou conta de suas pernas, impedindo-o de andar e até mesmo de dormir coberto por um fino lençol. A depressão foi pesada. Alguns dos seus auxiliares temeram que morresse.
Que morresse, não. Que, de repente, virasse uma estrelinha. A direção do PL, sigla que o abriga e paga as contas, cuida de animá-lo dizendo que será o cabo eleitoral mais importante da história. Bolsonaro finge acreditar. Em breve, cairá na real.
O Brasil está prestes a dar uma lição ao mundo. Celebremos.