Artigo: Farmácia Viva

Secretário de Saúde, Carlos Lula

Por Carlos Lula

A cena é conhecida: o filho sente os primeiros sintomas de uma dor de estômago e a mãe se apressa a aconselhar a tomar um chá de mastruz. Quando pequeno, o filho torce o nariz, mas o toma, afinal ainda não tem tanta autonomia assim. Já adulto, desconsidera as recomendações maternas e passa na farmácia em busca de um remédio de marca conhecida.

Um dos grandes “dogmas” das gerações mais novas é o saber apoiado no conhecimento científico. Não à toa, são centenas de pesquisas divulgadas diariamente nas mais diversas áreas – muitas de grande relevância, outras de cunho duvidoso. Sem entrar no mérito da questão, o fato é que hoje muitos superestimam o saber científico a ponto de colocá-lo em um pedestal e agir em detrimento dos saberes nascidos da cultura popular.

Colocar esses dois saberes – aparentemente tão diferentes – em lados opostos, mais do que desconsiderar a riqueza de possibilidades da vida, cria uma briga desnecessária e que pouco contribui para evolução da sociedade. Nesse aspecto, podemos nos respaldar no conteúdo científico, sem com isso desprezar os saberes e as vivências alternativas.

É esse o ponto focal do Programa Farmácia Viva, implantado pelo governo Flávio Dino, que já conseguiu a adesão de 100 municípios maranhenses. O programa estimula e orienta a população e profissionais de unidades básicas de saúde a fazer o uso correto das plantas medicinais, agregando o conhecimento popular respaldado cientificamente à atenção primária à saúde.

Nos municípios onde houve adesão ao programa, é construído um horto, com cerca de 70 espécies de plantas medicinais, feita a capacitação de técnicos para cultivar e entender os usos terapêuticos de cada espécie. Desde 2016, foram mais de 6 mil pessoas capacitadas.

As plantas medicinais são usadas terapeuticamente na forma de chás, pomadas, cremes, xaropes e outras formas. Até agora, 48 hortos já foram construídos, com distribuição de mais de 500 mudas. As próximas inaugurações serão em Itapecuru, onde foram construídos sete hortos.

Além dos municípios, oito terreiros núcleos de matriz africana na Região Metropolitana de São Luís aderiram ao programa recentemente. Também existe parcerias formadas com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a Faculdade Facimp Wyden, em Imperatriz, e o Viva Cidadão/Procon.

Outro fato a ser comemorado é que, além das adesões, temos recorde de prescrições em casos variados, como para controle de doenças crônicas e controle hormonal, por exemplo.

Vale ressaltar que o uso das plantas medicinais é adjuvante ao tratamento médico prescrito, ou seja, é complementar. No Hospital Nina Rodrigues, que possui um horto, a fitoterapia é usada no tratamento de transtornos mentais.

Outro destaque é que o uso das plantas tem comprovação científica. Algumas das mudas usadas nos hortos são de xanana, vick, boldo, alecrim, romã, mastruz.

O programa é baseado na experiência da professora Terezinha Rêgo, do herbário da Universidade Federal do Maranhão, que há mais de 50 anos defende o uso das plantas medicinais para cura de doenças. A professora, em ocasião oportuna, reconheceu o salto que damos ao usar a medicina natural na promoção de saúde da população. Ora, receber tal reconhecimento da cientista popular do gabarito da doutora para nós é uma prova de que estamos no caminho certo na oferta de um tratamento mais saudável para nossa população.

Tais quais nossos ancestrais indígenas e africanos faziam, estamos nós cá a fazer. Desta vez, não só com o conhecimento empírico, mas com todo o arcabouço construído pela ciência em séculos de estudo. Uma prova que os saberes popular e científico são os dois lados de uma moeda, cujo valor é a promoção de saúde.

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