Carlos Lula critica influência da política nos debates sobre Saúde

Foto Reprodução: MA 10

O programa Resenha da TV Difusora, na última segunda-feira (30), abordou o sistema de Saúde no Maranhão, com entrevista do secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula, que comentou sobre os progressos e dificuldades da atual gestão, a exemplo do crescimento no tratamento relativo ao câncer, que levou o Maranhão a se tornar referência nacional e até internacional. Ele também falou sobre a atual divisão da rede de saúde e sobre a influência de debates políticos no trabalho da secretaria.

A partir desta edição do Resenha, ele passa a ser exibido às segundas, quartas e sextas, às 13h45, após o programa do Zé Cirilo.

Principais desafios da gestão

Há 2 anos à frente da pasta, o secretário afirma que o maior desafio foi realizar a expansão de serviços com os mesmos recursos repassados há anos atrás. “Não há praticamente diferença entre os recursos em 2014 e os recursos hoje, em 2018, gastos com a Secretaria de Estado da Saúde. Mas cortando onde deve ser cortado, tirando o supérfluo é que a gente consegue fazer a gestão dessas quase 70 unidades de saúde que a gente tem em todo o estado do Maranhão”, aponta ele.

Carlos Lula também coloca que recebeu uma rede de saúde estruturada em uma base político-eleitoral, mas que passou a trabalhar em um sentido mais técnico para a pasta. Entre as contribuições da secretaria, ele cita o investimento nos hospitais regionais: “entregamos sete e reformamos o primeiro hospital regional, que foi o hospital de Presidente Dutra. Vamos entregar o hospital regional de Chapadinha, que também tem ainda para completar a nossa rede. Vamos entregar uma maternidade também em Colinas, para fechar também uma deficiência daquela região. E temos apostado nisso: na prevalência da atenção básica, para estruturar nossa rede de média e alta complexidade”, diz ele.

Combate ao câncer

Um dos pontos de crescimento na área da saúde foi o combate ao câncer. Segundo o secretário, o cenário de tratamento da doença mudou em três anos.

Até 2014, o cenário do tratamento ao câncer no Estado era muito ruim. A gente só tinha o hospital Aldenora Bello, que é um hospital filantrópico”, explica ele, afirmando que não havia aporte financeiro do Estado à instituição na época. “Não tínhamos radioterapia no Sul do estado e em todas as demais regiões do estado, nós não tínhamos nenhum tipo de tratamento”, continua.

Ele explica que nos últimos três anos, a radioterapia já foi disponibilizada no sul do Estado, e também foi implementado tratamento em oncologia na região leste, além do hospital Aldenora Bello ter passado a receber recursos estaduais. Isso com o apoio do Fundo Estadual de Combate ao Câncer, que tem sido executado este ano.

O fundo foi reconhecido pela OMS como um projeto de referência para as Américas e para o Brasil. “O Maranhão é o único estado da federação que tem um fundo voltado exclusivamente para o combate ao câncer”, aponta Carlos Lula.

Comentando sobre um posicionamento do deputado estadual Eduardo Braide, que alegou que o Estado se apropriou do projeto relativo ao fundo, que era dele, ele afirma que durante a apresentação do projeto, foi esclarecida a origem do recurso e apresentada uma discussão histórica sobre como ele foi viabilizado. Ele aponta também que discussões como essa podem desviar a atenção para debates relevantes sobre a gestão da saúde.

Talvez o deputado desconheça, mas a origem do projeto, ele não foi ocultado pelo Estado. Fizemos questão, em nosso discurso na palestra para apresentar o fundo, fizemos a discussão histórica de como começou e como está o fundo hoje. Fizemos questão de contar toda a história do projeto”, diz ele.

“Tenho dito muitas vezes que o debate político no estado vai além do racional e isso é mais uma prova que infelizmente, em vez de estarmos discutindo que hoje o Maranhão está consegue ser destaque nacional e mundialmente, estamos discutindo sobre a paternidade de projetos”, continua.

A guerra política no Maranhão vai além do racional

Secretário Carlos Lula

Nós temos que estar discutindo o que é relevante. Por exemplo, nos últimos 15 anos o estado do Maranhão conseguiu aumentar em 5 vezes o que gasta com recurso na Saúde. A gente gastava R$400 milhões em 2004, hoje gastamos praticamente 2 bilhões por ano. A perspectiva para daqui há 20 anos é que continuemos com o recurso que temos hoje. Isso sim será trágico para a Saúde no Maranhão. Aumentamos em 500% em 14 anos: ainda que não se mantenha o mesmo ritmo de crescimento, se não aumentarmos o dispêndio de recursos hoje com a Saúde, em 20 anos o cenário seria ainda pior do que temos hoje”, alerta o secretário.

Estrutura do sistema estadual de saúde

Durante a entrevista, Carlos Lula também explicou como funciona a divisão de competências entre Estado e Municípios na Saúde, esclarecendo que os serviços de atenção básica e atendimentos e urgência e emergência são competência do município; já a média e alta complexidade cabem ao Estado. Contudo, segundo ele, o Maranhão “bagunçou um pouco” essa estrutura, já que a maior parte das UPAs, que deveriam ser de competência municipal, são administradas pelo Poder Estadual (com exceção da UPA da zona rural).

Segundo ele, entre 2010 e 2014, apareceu a oportunidade de fazer uma revolução na Saúde do estado, mas que foi perdida, pois os recursos foram utilizados de forma errada.

Segundo ele, um estudo do Banco Mundial sobre a saúde pública no país aponta que um dos grandes problemas do sistema de Saúde no Brasil é a ineficiência. “O Brasil tem em sua grande parte hospitais de pequeno porte (com menos de 50 leitos) que são ineficientes, muito pequenos para gerar algum retorno para a sociedade. São muito caros, não deveriam existir. A saúde deve ser pensada regionalmente”, diz ele.

Esse mesmo estudo do Banco Mundial revelou que quanto mais se avança na atenção básica, melhor é a média e a alta complexidade. Isso quer dizer que a gente não deveria ter investido em hospitais de 20 leitos, mas em hospitais regionais e investir esse dinheiro repassado ao estado para cuidar da atenção básica nos municípios”, diz ele, explicando que no Maranhão, os hospitais de 20 leitos se tornaram regra, o que se tornou uma aplicação ineficiente dos recursos, já que as demandas da atenção básica não foram atendidas.

A gente construiu 59 hospitais de 20 leitos, cada hospital custou em média de 8 milhões, para ter muita dificuldade, pois o hospital não é resolutivo e não tem capacidade para atender especialidades. Não resolve o problema das pessoas e é muito caro para o município, mesmo com a ajuda do estado. E continuamos ajudando, mas isso é insuficiente para manter o hospital funcionando. E se sabia disso”, diz ele, que enfatiza a importância de cuidar da atenção básica, para estruturar também a alta e média complexidade.

Fonte: MA 10

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