
A contratação da dupla sertaneja César Menotti & Fabiano para o Arraial da Maria Aragão, realizado em 27 de junho, expôs uma contradição desconcertante no discurso da Prefeitura de São Luís sobre a valorização da cultura popular. Por um cachê total de R$ 480 mil, pagos com recursos públicos, a apresentação da dupla foi justificada pela Secretaria Municipal de Cultura como resultado da “ausência significativa de opções adequadas” para promover a democratização cultural durante o São João.
A declaração, divulgada com exclusividade pelo ex-vereador Wesley Sousa, soa como um insulto à memória cultural maranhense. Em pleno mês junino — época de maior efervescência do calendário tradicional — o governo municipal decidiu ignorar a vasta diversidade de grupos locais para priorizar um show comercial que nada dialoga com as tradições do estado.
O detalhamento dos custos reforça a crítica à falta de sensibilidade com a realidade local: foram R$ 350 mil apenas de cachê da dupla; R$ 46 mil com deslocamento em avião particular; R$ 25 mil com transporte aéreo e terrestre da equipe; R$ 20 mil com hospedagem, aluguel de SUVs, camarim e carregadores; R$ 6 mil em diárias de alimentação; R$ 15.500 para pagamento da equipe técnica e R$ 17.500 de impostos sobre nota fiscal.
Enquanto isso, grupos de bumba meu boi, cacuriás, tamborzeiros e quadrilhas juninas — que representam a verdadeira alma do São João maranhense — seguem enfrentando falta de apoio, estrutura precária e até mesmo dificuldades para circular entre os bairros da capital.
Em um momento em que a cidade deveria exaltar suas tradições, a escolha da prefeitura parece caminhar na direção oposta.