A força do agro do Maranhão: Porto do Itaqui bate todos os recordes

Porto do Itaqui

EXAME Em outubro, começou uma contagem regressiva no Porto do Itaqui, no Maranhão, então prestes a bater um recorde no volume de embarques. No dia 11, uma segunda-feira ensolarada, os funcionários aguardavam com ansiedade a chegada do Elandra Willow, petroleiro fabricado pela multinacional Hyundai, imbuído da missão de levar uma carga de combustível ao porto de Santos. A data representou um marco histórico: com o carregamento do navio, o Porto do Itaqui bateu o total de movimentação de 2020.

Não que conquistas como essa sejam uma novidade: no primeiro semestre deste ano, os embarques somaram 25 milhões de toneladas, principalmente de grãos e outros produtos ligados ao agronegócio, quase o total movimentado em 2020 e 34% a mais do que no mesmo período do ano passado. “Mas não esperávamos um resultado tão positivo com tamanha antecedência ao final do ano”, diz Ted Lago, presidente do Porto do Itaqui, em São Luís, em entrevista exclusiva à EXAME.

A expectativa é terminar o ano com 29 milhões de toneladas de carga embarcada. Os bons resultados já conquistados, aliados a perspectivas ainda melhores, vem transformando o Porto do Itaqui – no primeiro semestre, ele foi alçado à condição de quarto maior do país.

Avanços como o do Itaqui serão discutidos nesta terça, dia 9, durante o Fórum EXAME Infraestrutura, Cidades e Investimentos, com transmissão online — os maiores nomes da infraestrutura brasileira irão debater o desenvolvimento do setor nas áreas de saneamento, mobilidade, transporte e logística.

Os grandes campeões deste ano devem ser os fertilizantes, com embarques 18% superiores aos de 2020, seguidos por grãos (9%). “Dissemos para os produtores rurais: vocês podem produzir, nós temos capacidade de embarcar”, diz Lago.

A proximidade com uma das maiores regiões produtoras de grãos do país e uma gestão azeitada, baseada em um pipeline de investimentos combinado a melhorias operacionais, ajudam a explicar o bom momento do porto de São Luís.

Agronegócio

Hoje, a região conhecida como Matopiba, que se estende pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, considerada a nova fronteira agrícola do país, já responde por 12% da produção total de soja, um dos principais carros-chefes das exportações brasileiras, com 28 bilhões de toneladas embarcadas em 2020 e um faturamento de 40 bilhões de dólares. Quase a totalidade dessa produção é escoada por navios que atracam em São Luís, com destino à China, Europa e outros continentes.

A perspectiva é que a produção de soja e milho no Matopiba deve dobrar até 2030, atingindo 33 milhões de toneladas, segundo o Ministério da Agricultura. Para exportar todo esse volume de grãos, a estrutura logística precisará estar tinindo – e quem souber aproveitar as oportunidades deverá sair na frente.

O porto de Itaqui vem se consolidando como a grande porta de saída da região, aumentando grandemente a capacidade de armazenamento e embarque para atender uma demanda cada vez mais em alta”, diz Diogo Piloni, secretário Nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério da Infraestrutura. “O agronegócio importa fertilizantes e combustíveis, que chegam pelo porto, e exporta alimentos, em uma solução logística muito interessante”.

Em março, foi inaugurado um novo terminal de fertilizantes, depois de 18 meses de obras, viabilizadas com investimentos da ordem de 110 milhões de reais. A novidade vai permitir a movimentação de 3,5 milhões de fertilizantes por ano, aumentando em pelo menos 30% a capacidade do porto.

No primeiro semestre do ano que vem, a cadeia logística da importação do produto deverá ganhar outro salto de produtividade, com a implementação do transporte ferroviário entre Itaqui e o munícipio de Palmeirante, no Tocantins, com localização estratégica no Matopiba, por meio de uma parceria com a operadora VLI. A construção do ramal, que será conectado à ferrovia Norte-Sul, deve custar cerca de 200 milhões de reais. Para o produtor, uma das principais vantagens deverá ser um custo menor de transporte e uma maior agilidade na importação.

Competitividade

“Está acontecendo um movimento muito bom no país, de aumento de competição entre os portos, principalmente aqueles da chamada saída Norte e saída Sul”, diz o economista Cláudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B. “Historicamente, a grande saída para os produtos do agronegócio era o porto de Santos e Paranaguá, no Paraná, e isso foi mudando”.

Nos últimos anos, os investimentos no porto de Itaqui chegam a 2 bilhões de reais. Boa parte desse dinheiro foi direcionada a melhorias como o novo terminal de fertilizantes e, talvez maior importante ainda, e em um dos maiores projetos de infraestrutura logística para exportação de soja.

Com o aumento da produção de grãos, o Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram) passou por uma expansão em setembro do ano passado, duplicando sua capacidade para 15 milhões de toneladas. Agora, a operadora da unidade, a Corredor Infraestrutura e Logística (CLI), comprada pela gestora IG4 Capital em 2020, estuda uma nova ampliação. “O custo logístico menor proporcionado por essas melhorias deverá tornar o agronegócio e as exportações brasileiras em geral mais competitivas”, diz Piloni.

Nos próximos anos, a conclusão das obras da ferrovia Norte-Sul, que vai ligar o Porto do Itaqui ao de Santos, deve adicionar um caldo extra à rota de escoamento dos produtos do agronegócio nas regiões Centro-Oeste e Norte. Mesmo antes da inauguração do novo trecho ferroviário, inovações na regulamentação do setor, com a aprovação do marco regulatório que estabelece o regime de autorizações, sem a obrigatoriedade de licitações, estão movimentando o mercado.

A VLI já anunciou que pretende investir 15 bilhões de reais até 2030 em soluções logísticas para o Norte, o que deve beneficiar o porto de Itaqui. A empresa pretende operar mil quilômetros de trilhos no Mato Grosso, Maranhão e Minas Gerais. Ao mesmo tempo, a CLI fechou acordos com grandes tradings do agronegócio, como a Cargill, Bunge e ADM, para a exportação de mais de 3 milhões de toneladas de grãos pelo porto de Itaqui até 2025.

Com resultado recorde no Brasil em 2020, quando apresentou receita operacional líquida de quase 70 bilhões de reais, 38% a mais do que em 2019, a Cargill, uma das maiores empresas de agronegócio do mundo, com operação no porto do Maranhão, se prepara para um novo salto de produção.

Vem aí, segundo previsões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), uma safra recorde de soja, de mais de 141 milhões de toneladas, 4% a mais que em 2020. “Já temos algumas das operações mais produtivas do país, com o embarque de 70 mil toneladas em dois dias e meio”, diz Lago. “O agronegócio é nosso motor de crescimento”.

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