Em artigo, José Reinaldo anuncia saída do PSB

José Reinaldo Tavares

Impressiona a falta de debate dos grandes problemas brasileiros. Estamos discutindo e votando na Câmara Federal e no Senado temas cruciais para o nosso futuro e, fora do parlamento, não existe na sociedade nenhum debate sério sobre esses assuntos. Fui até acusado de direita porque votei a favor da reforma trabalhista como se lutar pelo emprego fosse de direita ou de esquerda, quando na verdade isso é apenas economia e acesso ao emprego. A China está aí para demonstrar o que estou dizendo.

Estamos apenas colocando de novo a economia que foi colocada de pernas para o ar, pelo desastrado governo de Dilma, de pé novamente.

Parece que quem grita mais ganha a parada, mas até isso não é verdade. Basta ver que o povo deixou as corporações sozinhas na sexta 28 de abril na badalada greve geral e foi trabalhar como pôde.

Pois bem, eu estou saindo do PSB exatamente porque resolveu fechar questão contra as reformas trabalhista e previdenciária sem ouvir as bancadas da Câmara e do Senado. Eu fui convidado para ir para o PSB por seu maior líder Miguel Arraes. Eu convivi muito com Eduardo Campos um dos maiores políticos contemporâneos, hábil conciliador que ouvia e que gostava do debate e foi o primeiro político importante que alertou que o governo Dilma ia nos levar para o buraco. Para poder ser ouvido e poder participar do debate se candidatou a presidência e vinha fazendo uma campanha diferenciada e com chances de ganhar se não fosse o fatídico acidente que lhe tirou a vida em plena campanha. Relembro tudo isso para basear minha convicção de que esse fechamento de questão jamais seria feito sob sua liderança, porque isso dividiu irremediavelmente o partido que ao invés do rápido crescimento que apresentava, vai diminuir de tamanho tal a desconfiança estabelecida na Bancada. O resultado da votação foi de 16 contra a reforma e 14 a favor, inclusive a líder do partido.

Pois bem, e o mérito da reforma? Eu e a grande maioria dos deputados não tiramos direitos de nenhum trabalhador. Nenhum, e desafio aos palpiteiros de plantão, que apontem um sequer. E isso é fácil de provar. Os direitos dos trabalhadores estão estabelecidos no artigo sétimo da Constituição e em seus parágrafos. Nenhum foi suprimido e só a ignorância do que se debatia podia levar a essa conclusão, pois nenhum foi revogado ou substituído e nem poderia pois o que aprovamos foi um projeto de Lei que obviamente não tem poderes para mudar a Constituição. Votamos pelo emprego, ou é normal e devemos fechar os olhos para 14 milhões de desempregados? As leis trabalhistas datam de 1943, estamos em 2017 o mundo mudou, o trabalho mudou, o que fizemos foi apenas uma atualização da legislação adaptando-a aos novos tempos e destravando a insegurança jurídica que fazia as empresas evitar contratar trabalhadores como provam milhões de processos na justiça do trabalho que assustavam os empregadores. Quem ganhou foram os trabalhadores, os jovens, os pequemos e micro empresários e a economia.

A gritaria toda é por causa do dinheiro da contribuição sindical que por ser obrigatória, tanto para os trabalhadores do setor público quanto os do privado, na verdade se tornou um imposto sindical que não podia ter o seu uso fiscalizado pelo TCU. Uma benesse e tanto, tão desequilibrada que nos levou a ter 16 mil sindicatos enquanto, outros países, no máximo, tem dezenas deles. Isso porque era tanto dinheiro que fazia com que milhares de dirigentes sindicais não trabalhassem mais e ficassem anos e anos no comando dos sindicatos.

A grita foi por esse dinheiro e esse privilégio e muitos defendiam o status quo sem saber que apenas estavam defendendo os privilégios dos sindicalistas ao defender “direitos”. E não o emprego.

Nós não acabamos com a contribuição sindical. Elas continuam a existir, mas não são mais obrigatórias e os trabalhadores podem, se quiser, continuar pagando. Mas, aí os sindicatos terão que mostrar que trabalham de verdade para merecerem o pagamento.

E a reforma Previdenciária? Essa todos os presidentes do país tentaram fazer. Também não é de direita e nem de esquerda. É pela sobrevivência do pagamento dos aposentados, presentes e futuros, e pelo equilíbrio das contas nacionais. Se não for feita todo os recursos orçamentários irão para pagamento de aposentadorias e não sobrará recursos para a saúde pública, para a educação e para a segurança. Será a falência do país como nação.

Quando falo em todos os presidentes, são todos mesmo. Desde Lula, Fernando Henrique, Dilma Collor, mas, agora sob a presidência de Temer, com a maior crise econômica de nossa história já não pode mais postergar. Todos os países já fizeram dentro dos mesmos moldes do país. Ou fazemos ou a crise, a inflação e o desemprego virão cada vez mais forte. Dizer o contrário é ser irresponsável e querer o pior, principalmente depois que a Câmara dos deputados suavizou o texto e o tornou menos duro.

Duros tempos, mas os trabalhadores e os que querem ver o país melhor podem contar comigo.

Por: José Reinaldo Tavares

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